O período Sensório-Motor –
O período sensório-motor é um dos estágios descritos por Jean Piaget1 em suas pesquisas realizadas acerca do desenvolvimento infantil. Piaget caracterizou quatro períodos principais no desenvolvimento cognitivo: Sensório-motor (0 a 2 anos); Pré-operatório (2 a 7 anos); Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos) e Operações formais (11 ou 12 anos em diante), onde cada período caracteriza-se por diferentes estágios de organização mental. No entanto, mesmo com essa delimitação, as faixas etárias apresentadas em cada período servem apenas como referência.
Nascimento –
Wadsworth (1996/1971) aponta que o processo do desenvolvimento mental
inicia-se no nascimento, entretanto, neste momento, o bebê ainda não está fazendo
representações de objeto – que é a capacidade de ter ideias sobre um objeto, mesmo
sem vê-lo (LA TAILLE, 2006) – em sua mente, e sim, apresentando comportamentos
primitivos do desenvolvimento intelectual, que serão determinantes para o
desenvolvimento de níveis posteriores, uma vez que, independente da idade, a
conduta intelectual tem origem direta no nível anterior de comportamento, sendo o
período sensório-motor o cerne do desenvolvimento intelectual.
Quando nasce, a afetividade do bebê é direcionada somente para si e o
conceito de que o mundo é composto por uma gama de objetos ainda não está
formado. No início do período sensório-motor, o bebê não faz diferenciação entre si
mesmo e os objetos que o cerca, sendo que qualquer objeto que lhe for apresentado
será somente um objeto para levar à boca, para agarrar ou para olhar.
entre o nascimento e o segundo ano de vida da criança, ocorrem mudanças amplamente notadas. Aos dois anos, a criança apresenta uma organização de esquemas cognitivos e afetivos muito mais complexa do que em um recém-nascido. Tal organização é resultante da relação da criança com o meio ambiente e de sucessivas assimilações e acomodações, ocasionando aprimoramento de esquemas construídos.
O Desenvolvimento Musical dos Bebês de Zero a Dois Anos
Na musicalização, especialmente com bebês, o objetivo não é que o desenvolvimento musical seja um produto final e sim um processo contínuo ao longo da vida. O intuito primordial é ofertar uma vivência musical qualificada, de modo que o bebê tenha uma base consistente para iniciar a construção de seu conhecimento musical através da prática. Essa prática musical inclui atividades envolvendo variações de timbres, de altura, intensidade, duração, diferentes organizações instrumentais, variados estilos musicais, pulsação, células rítmicas, diferenciação entre som e silêncio, etc (STIFFT, 2008).
A seguir, serão abordadas, de forma concisa, as Condutas da produção sonora infantil, de Delalande (1999, 1984) e a Teoria Espiral de Desenvolvimento Musical, de Swanwick (1994) – enfatizando, em ambos, o período sensório-motor –, citados por Carneiro (2006) como trabalhos significativos sobre o desenvolvimento musical fundamentados na Teoria de Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget. Carneiro (2006) afirma que os trabalhos de Delalande e de Swanwick baseiam-se em marcos que delimitam as experiências musicais infantis, relacionando-se a atributos cognitivo do período sensório-motor descrito por Piaget, sendo uma forma de confirmar a importância das teorias piagetianas relacionadas ao estudo do desenvolvimento cognitivo na música.
As possibilidades de conhecer a produção musical de outros povos e culturas são apontadas por Delalande (apud BRITO, 2003, p.36) como um meio para que a produção sonora infantil fosse reconsiderada. O início da contribuição dos compositores eletroacústicos (que passaram a fazer música utilizando o ruído – composições que foram consideradas bastante próximas à produção musical da criança pequena), e os novos tipos de música vocal que passaram a ser apreciados pelo público em geral, foram fatores preponderantes para que fossem renovados os pensamentos a respeito da música da criança (DELALANDE, 1999, apud CARNEIRO, 2006, p.20).
O trabalho de Delalande dialoga com as teorias cognitivas de Piaget ao afirmar que a música é, essencialmente, jogo, e relaciona esse “jogo musical” a três dimensões presentes na música: jogo sensório-motor – vinculado à exploração do som e do gesto, correspondente ao período sensório-motor (zero a dois anos); jogo simbólico – vinculado ao valor expressivo e à significação do discurso musical, correspondente ao período pré-operatório (dois a sete anos).